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Pesquisas

Na nossa epígrafe D. Zinha Torres, nascida em Cordeiros, hoje com 89 anos, indaga sobre um sentimento de angústia do lembrar e do esquecer da memória. Essa observação é relevante quando pretendemos trabalhar com esses elementos para mostrar a importância de uma cidade que buscar preservar e manter viva sua memória ressignificando o seu lugar de pertencimento, quando o que vem à tona nas lembranças quando perguntadas no presente são recortes de histórias construídas no passado por grupos de pessoas em suas histórias de vida e que compõem suas identidades. E são essas memórias que não queremos e não podemos perder.

A cidade de Cordeiros localizada no sudoeste da Bahia, fisiograficamente denominada de alto sertão, compõe o conjunto de cinco cidades, Belo Campo, Tremedal, Piripá e Condeúba, que se aproximam da fronteira com o estado de Minas Gerais tomando como ponto de partida a cidade de Vitória da Conquista, este local, enquanto espaço construído socialmente será o objeto dessa pesquisa que compõe o projeto DIGITALIZAÇÃO DOS ACERVOS DO PROJETO DE PESQUISA MEMÓRIAS DE CORDEIROS – BAHIA, aprovado pelos editais da Lei Paulo Gustavo.

A história é um objeto em permanente construção e ela só acontece quando o pesquisador trás o problema para o presente. O passado imutável apela por respostas e análises que estão aqui, no tempo de agora, e para essa elaboração buscamos trazer as fotografias e as memórias orais como documento histórico por darem esse viés de posteridade e suporte fomentando possibilidades de investigação tanto como fonte quanto como objeto de pesquisa.  *

Para trabalhar com a fotografia e a memória na pesquisa histórica deve-se considerar as múltiplas possibilidades desse importante material iconográfico e oral. Assim, através de uma proposta de método para a preservação dessa memória para a construção da história da Cidade de Cordeiros, percebemos que texto, imagem e oralidade são linguagens constitutivas das pessoas do lugar, que a produziram e podem ser configuradas como fontes.
 

Trazemos para essa construção a narrativa de Maria José Marinho de Andrade, 85 anos, nascida em Piripá, conhecida como Dona Zezé, uma das nossas entrevistadas. Dona Zezé relata que se mudou para Cordeiros em 09 de setembro de 1960 depois do seu casamento com Juracy Alves de Andrade. Ela, enquanto esposa de um comerciante, proprietário de uma das primeiras farmácias da cidade, rompe com a limitação dos afazeres domésticos e, entre outros trabalhos, foi professora leiga, comerciante e parteira, participando também dos movimentos políticos da cidade.

Por meio da fala de Dona Zezé podemos elencar diversos momentos pelos quais a cidade vinha se delineando. Destacamos da sua entrevista, uma memória de como a cidade se organiza para o progresso urbano vislumbrado pela sociedade de classe média e pelo poder público. Ela diz:

Ao buscarmos subsídios para o Projeto DIGITALIZAÇÃO DOS ACERVOS DO PROJETO DE PESQUISA MEMÓRIAS DE CORDEIROS – BAHIA, trazemos para o debate a cidade enquanto conjunto de espaços construídos. Pensar criticamente essas fontes e  esse espaço, como leituras múltiplas constitutivas das pessoas do lugar, dimensiona-se um quadro de análises que provoca outra multiplicidade de impressões. Ao elencarmos essas fontes como elemento problematizador para a pesquisa referente esse projeto, trazemos para o debate esse conjunto de espaços construídos e forjados pelas experiências de sujeitos que se movimentam e se mobilizam pela cidade através das suas práticas, trajetórias e sociabilidades.  *

Por Ednair Carvalho Rocha

Entre o olhar e a voz:
veredas de memórias nos caminhos da história da cidade de Cordeiros

“Coisa que você nem pensa que um

dia vai precisar falar, você não guarda.” *  D. Zinha Torres

Essa etapa do projeto DIGITALIZAÇÃO DOS ACERVOS DO PROJETO DE PESQUISA MEMÓRIAS DE CORDEIROS – BAHIA será de fundamental importância para que se levante a salvaguarda da documentação histórica que perpassa pelos acervos fotográficos pessoais e institucionais, pelas entrevistas e transcrições das memórias orais das pessoas do lugar, pela proteção dos documentos escritos e por buscar políticas efetivas de proteção ao patrimônio arquitetônico.

Água era pegada na cabeça, no rio, pegava água no rio. Tinha pessoas que pegava água pra a gente e a gente pagava, a gente pagava pra pegar água e tudo. Ai depois veio Salomão como prefeito e colocou uma caixa d'água no meio da rua… foi quando ACM foi governador. Ele levou água encanada, ele levou a EMBASA, levou a Coelba, levou o Baneb e levou escola do primeiro e segundo grau, porque a gente pagava escola particular para os meninos. Foi aí que ACM levou escola de primeiro e segundo grau, inaugurou tudo num dia só. Isso tudo foi uma glória pra cordeiros. Uma benção.  *

Pesquisa - Texto de Ednair Rocha - site Memórias
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Figura 1: Fotografia da Família Torres - Sentado à esquerda Jacinto Alves da  Costa e ao centro, Jesuína Berlinda Torres, avós de Dona Zinha. 
Fonte: Acervo pessoal de Dona Zinha. ³ 

Para trabalhar com a fotografia e a memória na pesquisa histórica deve-se considerar as múltiplas possibilidades desse importante material iconográfico e oral. Assim, através de uma proposta de método para a preservação dessa memória para a construção da história da Cidade de Cordeiros, percebemos que texto, imagem e oralidade são linguagens constitutivas das pessoas do lugar, que a produziram e podem ser configuradas como fontes.

REFERÊNCIAS 

Epígrafe da fala de D. Zinha, 94 anos, nascida em Cordeiros, hoje moradora na cidade Vitória da Conquista, em entrevista a Yan Roberto Santos de Oliveira e Ednair Carvalho Rocha no dia 7 de agosto de 2024, numa ação do Projeto de pesquisa Digitalização dos Acervos das Memórias da Cidade de Cordeiros – Bahia, aprovado pelos editais da Lei Paulo Gustavo.

 

BENJAMIM, Walter. Teses sobre o conceito de história. In: Magia e técnica, arte e política. Obras escolhidas III. São Paulo: Brasiliense, 1985.   

 

Fig.1. Fotografia de estúdio na Cidade de Cordeiros, na qual posa a família, Torres, família tradicional da Cidade de Condeúba, cujo tronco  se entrelaça nas relações de poder com a família Cordeiros no processo de emancipação política desta cidade.

Entrevista com Yan Roberto Santos de Oliveira, Ednair Carvalho Rocha e Ana Beatriz Damasceno de Araújo com D. Maria José Marinho de Andrade, D. Zezé de Juracy, no dia 27 de abril de 2024, numa ação do Projeto de pesquisa Digitalização dos Acervos das Memórias da Cidade de Cordeiros – Bahia, aprovado pelos editais da Lei Paulo Gustavo.

 

Tese de Mestrado de Ednair Carvalho Rocha. AS FONTES DOS VESTÍGIOS: MEMÓRIA E FOTOGRAFIA NAS TRANSFORMAÇÕES URBANAS NA CIDADE DE VITÓRIA DA CONQUISTA ENTRE 1920 A 1940, Santo Antônio de Jesus – Bahia, 2011.

Este texto foi desenvolvido com apoio financeiro do Governo do Estado da Bahia através da Secretaria de Cultura via Lei Paulo Gustavo, direcionada pelo Ministério da Cultura, Governo Federal. Paulo Gustavo Bahia (PGBA) foi criada para a efetivação das ações emergenciais de apoio ao setor cultural, visando cumprir a Lei Complementar nº 195, de 8 de julho de 2022.

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